quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Discurso por ocasião da entrega de carteiras aos novos advogados

Senhor Presidente da 45ª. Subseção da OAB/MG


.......Colegas meus.
Posso dizer com sinceridade aos novos advogados e advogadas e, às novas estagiárias e estagiários que, se Atemis se houvesse reservado como privilégio divino a faculdade de ser uma operadora do Direito e, tivesse ela, o espírito, encarnado é certo que não estaria à procura do céu, mas, em busca da prenda celeste de deslindar divergências nas opiniões alheias do ontem para o hoje. Quando, pois, encontramos nas letras remexidas de nossos livros, que trouxemos conosco de nossa Faculdade de Direito, como um desses achados preciosos, é dia de festa, ilumina-se a casa, emboca-se o megafono , e se anuncia ao longe que o céu e a terra estão prestes a se alinharem para, assim, responderem ao anseio do justo que se vê espezinhado, esmagado.

Entendam que só a ignorância ou a imbecilidade se não contradizem; porque não são capazes de pensar. Só a vulgaridade e a esterilidade não variam; porque são a eterna repetição de si mesmas. Só os sábios baratos e os néscios caros podem ter o curso das suas idéias igual e uniforme como os livros de uma casa de comércio mesmo porque, nunca escreveram nada de seu, nem conceberam nada novo.

Não se preocupem, pois, que ao criarem poderão correr os riscos de errarem, não temam jamais a possibilidade do erro e, se firmem na certeza de que mesmo errando serão respeitados desde que o erro não seja o advindo da vileza, da cupidez e que, de forma proposital seja o preparo para a instalação da ignomínia .

Não temam aquele que poderá se postar como adversário em uma pendenga como, da mesma forma, não temam a autoridade que poderá postar em seus caminhos,.mas, saibam que para se verem livres do temor devem antes abraçarem o ideal de sempre fazerem o bem, a qualquer custo.

Dos primeiros dias quando adentram nos corredores da Faculdade até a data de hoje muitos foram os sonhos, muitas foram as alegrias e tudo foi o esplendor de uma festa sendo que, acredito eu, lá no fundo os senhores e senhoras sabiam que o momento sublime estava por chegar como, de fato e de direito chegou.

Traçar um paradoxo entre a vida vivida e a vida que está por ser vivida será o mesmo que tentar descortinar o futuro o que, para nos mortais, é impossível sendo que; o que está por vir é o que os senhores e senhoras irão construir, hora após hora, dia após dia, sem descanso.

Daí é que entenderão que, debaixo do céu, tudo obedece a essa eterna lei da transmudação incessante das coisas muito embora Si nihil sub sole novum .

Agora, saibam que se todo o mundo se compõe de contradições, dessas contradições é que resulta a harmonia do mundo e, se das variações pode emanar o erro, sem as variações o erro não se corrige e é quando, então surge o operador do direito para levar aos Tribunais o pleito aflito daquele que pede não de forma vil, mas, quase que ferido de morte.

Saibam senhores operadores do direito que para mim é por demais difícil falar para os senhores e senhoras sem, contudo, ser prolixo uma vez que mesmo longe da tribuna, no fórum, lembro de meus antepassados, de minha família – esposa e filhos – e das amarguras impostas pela vida no decorrer destes trinta anos de advocacia.

Nestes lances de sobre-humano desespero, que seria de nós, se posso assim dizer, se não nos valesse essa inspiração que nossas mães, somente elas, sabem derramar no coração infantil de seus filhos, que é a crença indelével na grande divisa, na vida futura, na infalibilidade da Providência.

Falo-vos assim porque eu também já provei do cálice amargo servido pela vida. Muitas e muitas vezes, abrasado por essas páginas de fogo que geram as imaginações escaldadas. Iludi-me com os panegíricos com que a razão humana tem endeusado a si mesma e, muitas vezes julguei a inteligência onipotente e absoluta daquele que parecia meu próximo como, também, muitas vezes esperei descobrir nos recessos de minha consciência que já é tão grande, a chave para os arcanos do universo.

Vi-me, ao longo da vida, abandonado por aqueles que me cercavam sendo, pois, relegado à planos inimagináveis, mas, nunca deixei de ser advogado, nunca deixei de lado os princípios éticos que alicerçam minha vida e, assim, considero-me um sobrevivente.

Prendi-me, advogando, então nos princípios da honradez, da ética e do compromisso para com meus clientes fazendo destas premissas o alimento completo e abundante para o espírito, o bálsamo generoso para as mágoas do coração.

Não se iludam. No caminho que será percorrido estarão sozinhos e, sozinhos deverão sempre decidir o que é melhor e, acreditem, é a parte mais difícil e dolorosa eis que o primeiro juízo de valor sobre as causas que irão patrocinar será sempre o dos senhores e senhoras aqui hoje presentes.

Deus, porém, estenderá o seu braço para os senhores e senhoras como, também, estendeu para mim e crestou a flor do meu orgulho e, assim, mesmo diante da adversidade mantenho, como acredito que manterão, firme o timão que levará minha esta nau de um so tripulante para navegar.

Rogo aos jovens operadores do direito que hoje recebem o instrumento que os capacita, de uma forma ou de outra, a estarem em Juízo exercendo o jus postulandi que se mantenham firmes uma vez que antes de serem advogados são seres humanos que irão ter momentos bons e momentos maus e, entre um e outro é onde verão onde é forjado o advogado com base no caráter firme e destemido.

Concito aos meus diletos jovens que se aprimorem sempre e, antes de tudo, que sejam sempre honestos, atendam os mais necessitados sempre que forem procurados, não abaixem a cabeça diante do poder ou da autoridade, não temam e sejam justos sendo que, ao assim agindo serão reconhecidos pelos anjos que passeiam por este plano como os advogados de Deus.

Muito obrigado.